A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) manifesta preocupação com o risco de que a Câmara dos Deputados suprima dispositivos essenciais para a manutenção da competitividade da Zona Franca de Manaus (ZFM) e das Áreas de Livre Comércio (ALCs) durante a votação do PLP 68/2024, que regulamenta a reforma tributária, prevista para ocorrer na tarde desta terça-feira (17 de dezembro). Esses dispositivos, incluídos no texto aprovado pelo Senado Federal, garantem o diferencial competitivo da ZFM e das ALCs, fundamentais para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da Amazônia e para a proteção das fronteiras nacionais.
Desde sua criação, em 1967, a ZFM transformou a economia do Amazonas, que hoje gera cerca de 100 mil empregos diretos e mais de 500 mil indiretos. A manutenção dos incentivos fiscais foi fundamental para atrair investimentos na indústria e consolidar a região como polo de geração de renda e preservação ambiental, sendo responsável pela proteção de cerca de 60% da Floresta Amazônica na área de influência do modelo
As Áreas de Livre Comércio
(ALCs) foram criadas a partir de 1989 para promover o desenvolvimento local,
oferecendo incentivos fiscais semelhantes aos da ZFM, como o não pagamento do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Essas áreas desempenham papel
estratégico na integração econômica e social dessas regiões ao restante do
País. Atualmente, existem sete ALCs, em Tabatinga, no Amazonas; em
Guajará-Mirim, em Rondônia; em Macapá e Santana, no Amapá; em
Brasileia/Epitaciolândia e Cruzeiro do Sul, no Acre; e em Boa Vista e Bonfim,
em Roraima. As ALCs e a ZFM foram responsáveis por promover o crescimento do
PIB na região Norte que representava 1% e saltou para 2,6% do PIB nacional.
“A Zona Franca de Manaus e as
Áreas de Livre Comércio são exemplos de como políticas públicas bem
estruturadas podem gerar desenvolvimento econômico, inclusão social e
preservação ambiental. É inconcebível que uma reforma tributária, que deveria
reduzir desigualdades, acabe penalizando regiões e setores estratégicos.
Precisamos de um sistema justo que preserve empregos e promova a
competitividade, especialmente em áreas tão sensíveis para o País. Retirar os
incentivos fiscais desses modelos é comprometer não apenas a Amazônia, mas
também a soberania e o futuro sustentável do Brasil”, afirma o presidente do
Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Ameaças à competitividade da
ZFM e das ALCs
Contudo, o cenário atual é de incerteza. O texto aprovado no Senado preserva os incentivos fiscais da ZFM e das ALCs. Caso esses dispositivos sejam eliminados pela Câmara dos Deputados, o diferencial competitivo da ZFM e das ALCs estará gravemente comprometido, ameaçando a sustentabilidade econômica da região.
A CNC reforça que a ZFM e as ALCs não são privilégios regionais, mas estratégias nacionais para o desenvolvimento sustentável e a preservação da Amazônia, além de instrumentos de soberania em regiões geopolíticas e ambientalmente estratégicas. O enfraquecimento desses modelos colocará em risco não apenas a economia da região Norte, mas também os compromissos do Brasil com a sustentabilidade ambiental e a redução das desigualdades regionais.
Impactos econômicos de um eventual enfraquecimento da ZFM
A eventual retirada dos subsídios fiscais da Zona Franca de Manaus teria impactos severos na economia brasileira. Simulações mostram que a perda estimada de valor bruto da produção (VBP) na região poderia chegar a R$ 116,5 bilhões. Desse total, o Amazonas seria o mais afetado, com prejuízo de R$ 64 bilhões (55% do total). Estados vizinhos como Rondônia, Acre e Roraima também sofreriam impactos significativos, assim como o restante do Brasil, que absorveria uma perda de R$ 22 bilhões.
Em Roraima existem duas Áreas de Livre Comércio, nos municípios de Boa Vista e Bonfim, na fronteira com a Guiana. Para o presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac/IFPD, Ademir dos Santos, sem as ALC´s ocorrerá a perda da estabilidade econômica em Roraima. “Teremos de imediato o acréscimo nos valores dos produtos, o que provocaria o encerramento de empresas causando desempregos e uma desmobilização de pelo menos 40% do Setor do Comércio. Roraima e Amapá serão os estados mais prejudicados, pois as ALC’s estão estabelecidas na capital e os prejuízos para o empresário do comércio seriam bem maiores. O nosso pleito com a bancada federal desde o início da discussão sobre a Reforma Tributária é deixar claro no texto a manutenção a manutenção dos benefícios da Zona Franca de Manaus e também das Áreas de Livre Comércio na Amazônia. É importante deixar isso registrado para evitar qualquer dúvida no futuro”, destaca o presidente Ademir.
Substituição tributária e impactos negativos nos setores produtivos
A CNC destaca que a introdução da substituição tributária no PLP 68/2024 pode gerar distorções e prejuízos às empresas, ao antecipar o recolhimento de impostos, pode aumentar a carga tributária e o custo operacional, reduzindo a competitividade e a capacidade de geração de empregos. Esse regime exige a segregação das receitas e dificulta o aproveitamento de créditos tributários, o que representa uma contradição à proposta de simplificação do sistema tributário.
Outro ponto crítico é o impacto desproporcional da substituição tributária nas micro e pequenas empresas, muitas optantes pelo Simples Nacional. A retenção antecipada dos tributos reduz a liquidez e afeta a saúde financeira das empresas menores, comprometendo sua capacidade de investimento e geração de empregos. Além disso, os processos de ressarcimento de valores pagos indevidamente são complexos e demorados, agravando o problema de fluxo de caixa. Assim, a substituição tributária, ao contrário de promover uma simplificação, acaba gerando mais burocracia e prejuízos, impactando negativamente a competitividade e sustentabilidade das empresas.
Além disso, setores intensivos em mão de obra, como comércio e serviços, podem ser particularmente afetados pelo aumento da carga tributária decorrente da substituição tributária. Esses setores desempenham papel crucial na economia brasileira, sendo responsáveis por significativa parcela da geração de empregos e renda. A elevação dos custos tributários pode resultar em repasse de preços ao consumidor final, redução de margens de lucro e, potencialmente, em demissões, afetando negativamente a economia como um todo.
“Costumo dizer que o comércio em Roraima tem o antes e o depois da implantação das ALC´s Boa Vista e Bonfim. As Áreas de Livre Comércio incentivam o empresário e a instalação de novas empresas no nosso Estado. Sabemos que a reforma é importante, mas precisamos olhar essas áreas com atenção, pedindo o apoio dos parlamentares da Amazônia para manter no texto da Reforma Tributária os benefícios fiscais da Zona Franca de Manaus e das Áreas de Livre Comércio na Amazônia”, conclui Ademir dos Santos, presidente do Sistema Fecomércio em Roraima.
Fonte: Fecomércio