A vida da dona de casa e agricultora Vera Lucy Brandão seguia tranquila até demais, em meio ao seu roçado no sítio Primavera, localizado na comunidade do Cauê, zona rural do município de Pacaraima, onde ela trabalha em sistema agroflorestal. No entanto, em meados de outubro de 2023, tudo mudaria e para melhor quando dona Vera recebeu a visita da técnica do SEBRAE, Fabiana Duarte, gestora do projeto Inova Amazônia. O talento culinário da agricultora se juntaria ao olhar apurado de descobridores de talento como Fabiana e o sucesso seria inevitável.
A partir dali, a jujuba de cupuaçu, balinha mastigável que dona Vera fazia nas horas vagas para obter uma renda extra, viraria uma espécie de produto sensação. E agora, a dona de casa tem que dar seus pulos, como ela diz aos risos, para atender a demanda crescente pela iguaria. “E aí as pessoas que iam lá começaram a levar, trazer aqui para fora, para fora da comunidade a jujuba, tanto para Pacaraima, para Boa Vista, para outros estados, para outros países, como a jujubinha já tem ido, já tem ido para o Japão, foi para a Espanha, foi para o Texas, para diversos outros países que eu não estou nem lembrada mais o nome”, conta.
Mulher indígena e produtora rural consciente, preocupada com o meio ambiente, com formação em engenharia agrônoma pela Universidade Federal de Roraima, dona Vera é defensora e adepta da agricultura orgânica, priorizando o cultivo das plantações sem nenhum produto químico. Essa premissa vale principalmente para o cultivo e aquisição do cupuaçu, que quando falta em seu lote, ela compra dos produtores vizinhos, mas desde que não seja usado nenhum aditivo químico no cultivo. “Na nossa plantação, a gente não usa nenhum tipo de adubo químico, nem agrotóxico, a gente maneja de acordo com o que a natureza nos proporciona”, afirma Dona Vera.
É deste fruto típico da Amazônia, de sabor inconfundível, que nasceu o produto Sensação, que acabou transformando a agricultora em pequena empresária de sucesso. Portadora de fibromialgia, dona Vera busca alternativas para superar qualquer dificuldade que possa surgir pelo caminho. Uma dessas soluções foi a aquisição de uma panela elétrica, que ela chama de Minha Secretária.
O equipamento tem sido fundamental para permitir que ela aumente a produção de jujubas sem sofrer com as intensas dores nas mãos, como acontecia antes da aquisição da panela. “Eu já estava muito cansada de tanto mexer a panela e ter essas dores nos braços, porque eu tenho fibromialgia, o meu médico diz que tem. Então meu filho chegou comigo e falou, mãe, tem uma panela elétrica, a senhora não acha que seria bom? E eu sempre com medo, não, mas e se não der? Eu perdi o ponto e tal, aí eu fui, entrei no YouTube, fui dar uma olhada direitinho e aí eu gostei, né? Eu disse assim, então vamos comprar, ele disse, mãe, mas a panela custa mais de mil reais. Será que a jujuba consegue pagar? Ah, eu, consegue. Se não consegue. Com duas semanas, eu falei pra ele, já consegui o dinheiro da secretária”, relata.
Apesar do sucesso alcançado, dona Vera ainda enfrenta algumas dificuldades para manter a produção ativa. É que em seu lote, em Pacaraima, não tem energia 24 horas, o que dificulta o armazenamento da polpa de cupuaçu. Mas como toda mulher determinada, ela dá seu jeito e segue produzindo-o cada vez mais. Ultimamente, devido à intensificação das chuvas e a piora nas condições de trafegabilidade do ramal que dá acesso ao seu sítio Primavera, ela tem que passar mais tempo em Boa Vista, em sua casa no bairro Cidade Satélite, para onde teve que transportar sua produção de jujuba de cupuaçu provisoriamente.
O caso de dona Vera é uma prova de que o sucesso, muitas vezes, surge quando estamos preparados para aproveitar as oportunidades que aparecem de forma inesperada. Ao abrir suas portas e sua mente para a proposta da agente Fabiana, do projeto Inova Amazônia, ela teve acesso a novos mercados e parcerias estratégicas. A atitude proativa da agricultora demonstra a importância de estar sempre atento e preparado para quando a chance de crescimento e inovação bater a porta.
A dona de casa Lucilene Souza, uma paraense de paladar super apurado e com talento ímpar na cozinha, também se rendeu aos encantos da jujuba de cupuaçu da dona Vera. Ela, que quando criança colhia e vendia cupuaçu para ajudar no sustento de casa, lá no interior do Pará, diz que não imaginava ser possível fazer jujuba de cupuaçu, preservando o sabor peculiar do fruto amazônico. “A jujuba de cupuaçu da Dona Vera é delipciosa. Nunca comi nada igual”, afirma.
Acostumada a participar de feiras gastronômicas e de negócios pelo Brasil afora e no exterior, a agricultora Ronia Barker, superintendente do Instituto Evaldo Lodi, em Roraima, já provou sabores diversos da culinária das mais diversas regiões do país.
Ela diz, no entanto, que a jujuba de cupuaçu da dona Vera tem um sabor diversificado que conquista o paladar de quem prova a iguaria já na primeira vez. Com ela, foi exatamente assim. “Tive o privilégio de provar essa jujuba e me apaixonei pelo sabor, pelo refinamento da jujuba, pelo sabor que você não sente comendo um pedaço de açúcar, você sente como se você estivesse comendo cupuaçu”, comenta.
Ronia continua: “eu me lembro dessa jujuba, quando eu era criança, que minha mãe fazia, do caroço do cupuaçu, ela colocava açúcar e queimava na panela, e aquele cupuaçu era o nosso doce de casa. E hoje, quando eu como essa jujuba, me faz alusão a esse passado tão logo ali”, diz.
Aproveitar esse momento com prontidão e determinação pode transformar uma simples oportunidade em um marco na trajetória de um negócio. Dona Vera soube exatamente como fazer isso. Ela saiu em busca de informações técnicas e de contatos para espalhar a boa notícia da sua jujuba de cupuaçu. Um desses contatos é Gabriel Borges, gerente da cafeteria Jardim Café.
Depois de provar e aprovar o sabor irresistível da jujuba de cupuaçu, Gabriel decidiu abrir as portas do seu negócio conceituado para o produto da Dona Vera. “A Dona Vera a gente conheceu ano passado, numa feira que teve de café lá no Garden, e aí, conversando com ela sobre café, como nós somos uma torrefação, uma cafeteria e microtorrefação, e nós torramos nosso próprio café, e a gente está desenvolvendo uma parceria com ela sobre o café dela, e aí a gente acabou conhecendo a jujuba dela, trouxemos aqui para a cafeteria, teve uma ótima aceitação, é uma coisa muito boa, é uma coisa muito artesanal que ela faz, e é sensacional, a jujuba dela é fantástica”, afirma.
Dona Vera reconhece que com o apoio do Sebrae, a jujubinha de cupuaçu mudou completamente a sua vida, principalmente do ponto de vista financeiro. Agora, com o sucesso estrondoso alcançado pelo produto, lhe falta tempo até mesmo para se dedicar ao seu roçado lá em Pacaraima. Mas ela garante que não tem do que reclamar. Ela é só gratidão. “Graças a Deus tem dado tanta coisa certa, foi uma mudança, uma transformação na nossa vida”, diz ela.